Dormir bem é uma necessidade básica, mas para quem convive com dor crônica, o sono pode se tornar um verdadeiro desafio. O que muitas pessoas não sabem é que sono e dor têm uma ligação direta e bidirecional: a dor atrapalha o sono, e a privação de sono aumenta a sensibilidade à dor. Essa relação silenciosa interfere de forma significativa na qualidade de vida e na recuperação de diversos quadros clínicos.
Durante o sono, nosso corpo realiza funções fundamentais para o equilíbrio físico e emocional. É nesse período que ocorre a liberação de hormônios importantes, como o hormônio do crescimento, além da regeneração dos tecidos e da consolidação da memória. Quando o sono é interrompido ou de má qualidade, essas funções ficam comprometidas, o que pode agravar quadros de dor, especialmente em condições como fibromialgia, dor neuropática e lombalgias crônicas.
Pacientes com dor crônica frequentemente relatam dificuldade para adormecer, acordar várias vezes durante a noite ou ter um sono não restaurador. Estudos mostram que a interrupção do sono profundo, em especial das fases N3 (sono de ondas lentas), está associada ao aumento da sensibilidade à dor. Isso cria um ciclo vicioso: a dor atrapalha o sono, e o sono ruim aumenta a percepção da dor no dia seguinte.
Além disso, a privação de sono afeta neurotransmissores relacionados à regulação da dor, como a serotonina e a dopamina. Isso impacta diretamente o limiar de dor do paciente, tornando-o mais sensível a estímulos dolorosos. Com o tempo, essa hiperexcitabilidade sensorial pode tornar a dor crônica mais difícil de tratar, exigindo abordagens multidisciplinares.
Por isso, o tratamento da dor deve sempre considerar a qualidade do sono como um pilar essencial. Estratégias como a higiene do sono, terapias comportamentais, exercícios de relaxamento e, em alguns casos, o uso criterioso de medicamentos, podem ajudar o paciente a restaurar seu ciclo de sono e, com isso, reduzir os níveis de dor. Em quadros específicos, o acompanhamento com um médico especialista em dor pode ser decisivo para personalizar o tratamento.
Concluindo, ignorar os distúrbios do sono em pacientes com dor é negligenciar uma parte vital do processo de cura. Melhorar o sono é melhorar a dor — e, acima de tudo, recuperar a qualidade de vida.
Referências Bibliográficas
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